CONVITE A APRESENTAR PROPOSTAS

De acordo com os objetivos apresentados importa atender ao modo renovado como hoje se procura estudar:

  • uma Península Ibérica feita de “monarquias compósitas” (Elliott);
  • uma Europa marcada por redes e nexos “transregionais”, dos negócios aos livros;
  • os impérios da época moderna, em África, na Ásia e na América;
  • as múltiplas formas de violência que estas experiências frequentemente encerraram.
  • os “estranhos paralelos” (Lieberman) e as histórias “conectadas” (Subrahmanyam) entre a Europa e o mundo, na perspectiva de uma “história de partes iguais” (Bertrand).

A abordagem deve também considerar tópicos, campos e métodos de investigação que, no seu conjunto, facilitam o estabelecimento de novas configurações e cruzamentos entre história política, económica, social, ambiemtal, cultural e artística, e cuja exploração ajudará a pensar de outro modo D. Manuel I e o mundo que o condicionou e em que foi ator.

Quando, há cerca de três décadas, num Portugal marcado pelo arranque de uma certa internacionalização e por um comemorativismo relativamente crítico, se olhou para o monarca e a sua época de forma sistemática, as perspectivas em voga eram pouco atentas a um conjunto de dinâmicas historiográficas que alteraram, de forma significativa, os modos de fazer a história. Hoje impõe-se o foco conferido tanto à cultura material quanto à cultura visual como partes essenciais da tessitura histórica; as articulações entre micro e macro, e entre local e global para perceber as dinâmicas históricas; a atenção dada à cultura política e a uma nova forma de fazer a história diplomática; os problemas inerentes à escravização de pessoas, etnicidade género, religião e modalidades de inclusão e exclusão; as questões da atuação individual e coletiva (agency), das subjetividades e identidades complexas, das múltiplas formas de resistência e das interações ambientais. Não é incontornável submeter a época de D. Manuel I a todo este arsenal de feixes analíticos. Todavia, é inquestionável que muitas destas perspetivas ainda não foram ponderadas, e elas poderão clarificar, retificar ou densificar o conhecimento histórico disponível.

Áreas de Pesquisa Sugeridas

1. Ecologias e experimentações do império

Procura-se redirecionar o estudo do império português como um processo que se foi definindo através de violência e negociação, num contexto de impulsos múltiplos e instáveis, em larga medida decorrentes de tentativas efetuadas por uma heterogeneidade de grupos e indivíduos em contacto direto com ambientes humanos e naturais pelos quais foram, por sua vez, moldados. A abertura a perspetivas inovadoras convida a encarar a trajetória imperial manuelina como um conjunto de processos de reconfiguração de vários espaços e ambientes, de histórias marcadas por simetrias e assimetrias. Estas dinâmicas podem-se entender a partir, ora de invasões, oportunidades, colaborações ou resistências locais, ora de amplas conjunturas políticas, climáticas, ou comerciais em que participavam também outras sociedades, monarquias e impérios, incluindo o espanhol. Uma tal complexidade de níveis analíticos pode ser iluminada tanto por análises micro-históricas, como pelo estudo de conexões e comparações que assumam escalas regionais ou planetárias.

2. A fábrica social do império

Pretendem-se capturar as reações causadas por tensões e transformações que atingiram sociedades plurais e hierarquizadas, incluindo neste propósito diversos grupos e comunidades que enfrentaram processos profundamente desestruturadores de equilíbrios tradicionais, desde a escravatura até a expulsões, conversões e massacres, conquistas e mudanças da ordem política. Analisar-se-á o impacto social de imposições, adaptações, negociações e rejeições, expressões de violência e formas de convivência, casamentos mistos, diásporas e redes comerciais, formas de mobilidade e seus obstáculos. Privilegiam-se as perspetivas e as escolhas dos atores sociais, com os seus idiomas e linguagens simbólicas, emoções e rituais, ensaiando recuperar as vozes de marginalizados e subalternos, de populações silenciosas nas fontes de arquivo ou objeto de distorções e generalizações. Ao atentar para as dinâmicas que redesenharam as infraestruturas sociais de cidades, vilas e espaços rurais, ilhas, centros portuários, entrepostos comerciais e fortalezas, o peso de fatores endógenos será avaliado e contrastado com as tendências regionais e suprarregionais que os englobavam.

3. Circulação de objetos, imagens, gostos

Abandonando grelhas interpretativas tradicionais da história económica e da história da arte, ambiciona-se estudar a circulação de objetos e imagens, através e para além de Portugal, a partir das diferentes culturas materiais e visuais que determinaram as modalidades específicas nas quais esses objetos e imagens foram produzidos e consumidos. O objetivo é traçar a ‘vida global’ de produtos, objetos artísticos e devocionais, peças de uso quotidiano, artefactos, monumentos, raridades de coleção, bem como a mutabilidade das relações sensoriais e intelectuais que se foram estabelecendo com eles quando mudaram de espaço e contactaram

outros gostos. Esse trânsito pode estar vinculado ao comércio, mas também a empréstimos, pilhagens, missões religiosas, ou presentes. Contempla, ainda, a reformulação e ressignificação de motivos iconográficos oriundos de diferentes culturas. Serão exploradas tecnologias e tradições artesanais, formatos e tamanhos, tipologias de suporte e a sua composição material, quer no que respeita à sua dimensão transcultural, quer no que toca aos seus significados em âmbitos tão variados como as formas de saber, a leitura, as experiências religiosas.

4. Desmontando arquivos e os seus usos

Visa-se incluir uma sessão de cariz experimental, capaz de perscrutar o trabalho efetuado pelos historiadores nos bastidores, até se alcançar a forma final dada aos resultados das suas pesquisas. O que se propõe é selecionar exemplos de investigação através dos quais se mostre como se fez história, que métodos se adoptaram, que documentos foram lidos e como se leram, mas também de que novas fontes “manuelinas” se dispõe atualmente. O ponto de partida é o reconhecimento da opacidade e cariz compósito dos materiais que se usam, a influência das categorias e linguagens do presente nas formas como são lidos e interpretados esses materiais, as dinâmicas de poder ínsitas na organização dos arquivos e nas práticas institucionais de que resultaram, a memória que se foi construindo deste período, assim como as consequências para os conhecimentos alcançados dos desequilíbrios e assimetrias decorrentes das disponibilidades de fontes compulsadas pelos estudiosos. No fundo, pretende-se entrar na oficina do historiador, convidá-lo a sujeitar o seu próprio arsenal analítico a uma dissecação crítica  e, por esta via, criar condições que suscitem novas perguntas ao passado.

Todas as propostas submetidas serão avaliadas pela Comissão Científica.

Submeter Proposta De Comunicação

As propostas devem incluir a identificação do autor principal (e dos coautores, se aplicável), um CV do autor principal em inglês (máximo 600 carateres), título (máximo 200 carateres) e resumo em inglês e português (até 600 carateres), palavras-chave (máximo 5).

As comunicações podem ser apresentadas em português ou inglês.

O Prazo limite para apresentação de propostas de comunicação é 31 de dezembro de 2021.

    Lingua em que pretende apresentar a comunicação: PortuguêsInglês